Nossos Causos

I – O TAMANHO DAS SENTENÇAS

O desembargador Arquilau Melo conta que um colega que ele sucedeu numa Comarca e depois em uma Vara na Capital se vangloriava de haver delimitado o tamanho das sentenças na Justiça do Acre:

– A maior de todas deu em Tarauacá e a menor na Vara Criminal de Rio Branco, dizia orgulhoso o magistrado.  Arquilau diz que não chegou a ver e tampouco teve notícia dessa sentença tão grande mas a menor existiu de fato e foi redigida assim:

Vistos, etc.

Inquérito natimorto. Sem comentários. Arquive-se. PRI

II – PILOTO; NÃO ULTRAPASSE AQUELE AVIÃO!

O desembargador Ananias Gadelha, de saudosa memória, contava que certo dia, após ter concluído o cansativo trabalho manual de apurar os votos da eleição de Feijó e já se encontrava, no aeroporto daquela cidade com todos os papéis para trazer ao TRE e, claro passar uns dias com a família (numa época em que o juiz necessitava de prévia autorização para deixar a comarca) quando de repente pousou um bimotor e dele desceu, sozinho,  o então presidente do TRE, Wanderley Nonato de Oliveira. Depois dos cumprimentos de praxe, Ananias diz que já ia tomar o avião para trazer os papéis ao TRE quando Wanderley atalhou:

– Não, não precisa dr. Ananias! Eu vim busca os documentos, assim o Sr. Não precisa se deslocar para Rio Branco.  Ananias coçou a cabeça e contrariado disse: – tudo bem, eu fico. Mas quando  o avião do presidente levantou voo Ananias embarcou  na outro aeronave  aonde já se achava a sua bagagem e recomendou ao piloto:

– Pelo amor de Deus vamos devagar, não ultrapasse aquele avião que acabou de sair!

III – PEGUE ESTE AUMENTO E NÃO DIGA NADA PRA NINGUÉM

Em certa manhã, quando o Tribunal ainda funcionava em frente ao fórum Barão do Rio Branco, a presidência reuniu todos os juízes no auditório para contar uma boa nova. Havia convencido o então governador Edmundo Pinto a dar um aumento para os magistrado, mas por recomendação do próprio governador a notícia não poderia vazar, era necessário guardar segredo, especialmente com relação aos membros do Ministério Público que certamente iriam reivindicar o mesmo tratamento.

Uma semana depois foram os juízes convocados para uma nova reunião agora para levar bronca:

– Gente, eu não pedi que vocês guardassem sigilo? O governador acabou de me ligar reclamando que tem gente do Ministério Público com cópia do contracheque de magistrado. O então juiz Ananias Gadelha se remexeu na poltrona e disparou:

– Eu não dei contracheque para ninguém. Agora o promotor, nas audiências, senta ao lado da gente e abre a gaveta devagar e pega o contracheque. O que se pode fazer?

A desembargadora presidente ficou uma “arara”:

– Meu filho contracheque a gente não mostra nem para o cônjuge da gente! Ananias resolve fazer outra inconfidência:

– E o contracheque não era meu, mas de um colega de quem sou procurador. A presidente ficou irada e invocou do Código Civil, numa interpretação prá lá de duvidosa:

– Não, não, não pode. O juiz não pode ser procurador de ninguém! É o que diz o Código Civil.

IV- O JUIZ QUE QUASE CELEBRA SEU PRÓPRIO CASAMENTO

O Projeto Cidadão que tantas alegrias tem trazido àqueles que nele trabalham é rico em situações inusitadas. Quando era juiz em Cruzeiro do Sul, o magistrado Raimundo Nonato, atual juiz titular da 3º Vara Criminal,  recebia o desembargador Arquilau Melo numa das salas de uma escola em Cruzeiro do Sul enquanto lá fora quase mil casais se preparavam para a cerimônia do casamento coletivo. Nisso entra na sala a escrivã para anunciar que tinha uma mulher que queria falar com o magistrado, em particular.

– Pois mande ela entrar por que aqui somos todos magistrados e não há segredo algum entre nós.

A escrivã foi e voltou com a resposta de que mulher insistia que somente falaria em particular. O desembargador e o juiz Marco Thadeu que também se achava na sala fizeram questão de sair para que Raimundo Nonato atendesse a mulher que parecia tão aflita. Decorridos alguns minutos Raimundo apareceu como que transtornado com que ouvira e relatou:

– A mulher me pediu em casamento! Disse que era apaixonada por mim e queria casar comigo agora. Eu ponderei que já era casado e que amava minha esposa, mas ela disse que mesmo assim queria casar comigo por que era “caso de paixão”e que quase todos os dias ia ao fórum para me ver chegar e ainda indagou se eu não me lembrava que um dia desses ela, de propósito, roçou comigo no caminho…

Esses e outros causos e casos fazem a memória do Judiciário Acreano ser uma fonte de pesquisa e fonte de inspiração aos escritores acreanos.

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