Roberto Barros participa como governador em exercício de sessão solene da Assembleia Legislativa

O governador do Acre em exercício, desembargador Roberto Barros, participou na última quinta-feira (8) da sessão solene da Assembleia Legislativa que homologou a anulação do ato de cassação do primeiro governador eleito do Estado, José Augusto de Araújo, ocorrida durante os primeiros meses do Regime Militar.

Roberto Barros participou da sessão na condição de governador interino do Estado, em face da ausência do mandatário do Poder Executivo, Tião Viana, que cumpre agenda de trabalho em São Paulo.

A sessão foi dirigida pelo presidente em exercício da Assembleia Legislativa, deputado Moisés Diniz, sendo que também estiveram presentes, dentre outras autoridades, o representante da Prefeitura Municipal de Rio Branco, vice-prefeito Márcio Batista; o presidente da Câmara de Vereadores da Capital, Roger Corrêa; além do presidente da OAB Seccional Acre (OAB/AC), Marcos Vinícius,; do procurador geral do Estado, Rodrigo Neves, e da procuradora-geral adjunta e corregedora-geral do Ministério Público do Estado do Acre (MPAC), Kátia Rejane.

Ainda presentes ao ato estiveram a filha e o filho do governador deposto, Nazaré Araújo (procuradora do Estado) e Ricardo Araújo (vereador), bem como a viúva de José Augusto, a ex-deputada federal Maria Lúcia.

Falando aos presentes, Roberto Barros se disse profundamente honrado pela oportunidade de estar presente à solenidade “que representa a reparação de um erro histórico”.

“É uma honra acima de tudo. Quis a vida e Deus essa coincidência de representar aqui, interinamente, o governo do Estado. O Acre é uma terra de heróis, como Plácido de Castro, José Augusto, Wilson Pinheiro, Chico Mendes, dentre tantos outros que ainda hoje continuam a construir a História desse estado”, disse.

Para o desembargador, o ex-governador deposto foi vítima “do maior e mais absurdo erro institucional cometido no estado do Acre, tendo sido destituído de seu cargo legitimamente eleito por ser um idealista, que àquela época já pensava e falava, por exemplo, na reforma agrária”.

O governador em exercício também ressaltou o papel de José Augusto como um dos líderes do movimento autonomista, que resultou na elevação do então Território Federal do Acre à condição de estado.

“Além dessa reparação, nós estamos hoje aqui para rememorar a vida desse homem que, juntamente com os heróis do seu tempo, lutou pela autonomia e conseguiu transformar a condição do Acre”.

Outros discursos

Também o presidente em exercício da Aleac, deputado Moisés Diniz, falou sobre a alegria de conduzir a sessão solene “em um dia de Justiça e luz”.

“Um dia de Justiça porque desmente a história que se efetivou como farsa, sendo, assim, também um ato contra à vergonha. Um dia de luz porque o coração humano não aprenderá jamais a conviver com a escuridão, nem com a dor, nem com a desonra”, destacou.

A sessão solene também reservou momentos de surpresa e emoção. Foi assim quando o plenário da Casa do Povo foi invadido por jovens manifestantes que bradavam palavras de ordem como “Ditadura nunca mais” e “José Augusto presente”.

A viúva do ex-governador José Augusto, Maria Lúcia, falou sobre sua “profunda comoção” pelo “ato de Justiça” praticado pela Assembleia e especialmente, pela manifestação da juventude acreana, que não vivenciou a ditadura militar, mas se fez presente à solenidade.

Maria Lúcia também se lembrou das dificuldades que a família vivenciou após a deposição de José Augusto, que culminaram em sua morte, em 3 de abril de 1971, após quatro enfartes cardíacos.

Em um autêntico diálogo entre gerações, a viúva de José Augusto falou diretamente aos jovens presentes no plenário sobre a necessidade de combater de todas as maneiras, as ditaduras e o autoritarismo.

“É preciso que vocês, jovens, estejam atentos, que prestem muita atenção para que nunca mais venha outra nuvem negra como aquela que acabou não somente nossa família, mas com as famílias de muitos brasileiros, que até hoje não sabem sequer onde estão os corpos de seus entes queridos”, disse, visivelmente emocionada, Maria Lúcia, no que foi ovacionada de pé por todos os presentes.

Também visivelmente emocionados, Ricardo Araújo e Nazaré Araújo, filho e filha de José Augusto, ocuparam a tribuna para agradecer à Assembleia pelo ato de Justiça.

“É muito difícil para um filho que viu seu pai morrer dizer, mas que isso nunca mais aconteça em nosso país. Não há nada mais importante que a democracia. Nós precisamos cuidar, adubar e regar essa planta chamada democracia, para que ela cresça forte e frondosa. A ditadura seja ela de esquerda ou de direita só traz o mal”, disse Ricardo Araújo.

Por sua vez, Nazaré Araújo lembrou o “quanto a vida se altera com os atos de força e o mal que a intolerância é capaz de produzir”.

“Eu aprendi que coragem não é não ter medo. Coragem é enfrentar seus medos, pelas suas verdades, pelos seus ideais. Nós somos capazes de ir além. Temos que ser vigilantes com nossos ideais, temos que lutar todos os dias pela esperança e não permitir que calem a nossa voz”, falou.

O autor do requerimento de anulação do ato de cassação do ex-governador José Augusto, deputado Eduardo Farias, disse que se trata de “fazer Justiça com o povo acreano que teve seu primeiro voto para governador anulado pelo Golpe Militar”.

“Nós estamos repondo as Histórias do povo acreano e de José Augusto e também corrigindo uma injustiça que essa Casa cometeu, que foi ser conivente e servir de aparelho para que a ditadura se instalasse no Acre. O Brasil nunca mais viverá ditaduras. A democracia será sempre a pauta do nosso país e a juventude tem essa missão em suas mãos”, ressaltou.

Sobre José Augusto de Araújo

José Augusto de Araújo nasceu em Cruzeiro do Sul, em 1º de janeiro de 1930.

Foi historiador, geógrafo e político. Também é considerado um dos líderes do movimento autonomista, que culminou com a elevação do Território Federal do Acre à condição de estado, em 15 de junho de 1962.

Tendo conquistado um mandato de deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) nas eleições de 1962, renunciou ao cargo após ser eleito como o primeiro governador do estado do Acre, através do voto popular.

(Foto: Acervo histórico do Museu Universitário da Ufac)

Considerado um idealista, liberal e até mesmo comunista, foi perseguido pelo Regime Militar e obrigado a renunciar ao cargo de governador, sob a ameaça de invasão do Palácio do Governo por tropas comandadas pelo então capitão do Exército Edgard Cerqueira Filho. O ato foi anuído pela Assembleia Legislativa do Estado do Acre, que aceitou a renúncia forçada de José Augusto e empossou Cerqueira Filho como novo governador.

José Augusto teve seus direitos políticos cassados e precisou enfrentar diversos processos instaurados pelo Regime Militar, sendo submetido a longos e extenuantes interrogatórios. Em um desses episódios, foi vítima de um infarto cardíaco, tendo permanecido internado durante vários meses no antigo Hospital de Base de Rio Branco.

Morreu aos 40 anos, no Rio de Janeiro, em decorrência de problemas cardíacos, no dia 3 de abril de 1971.

Assessoria | Comunicação TJAC

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