TJAC promove “Dia Azul” para fortalecer inclusão e acessibilidade

“A diversidade humana deve ser acolhida com respeito”, enfatizou o presidente do TJAC em seu pronunciamento

Esta quinta-feira, 24, foi o “Dia Azul” no Tribunal de Justiça do Acre (TJAC), com o objetivo de divulgar a importância da inclusão e acessibilidade. A ação desenvolvida pelo Diretoria de Gestão de Pessoas, por meio da Gerência de Qualidade de Vida e Comitê Gestor Local de Atenção à Saúde, teve uma programação pautada no autismo.

As boas-vindas ao público deu continuidade a distribuição dos laços, que simbolizam a união em torno da conscientização sobre a complexidade do Transtorno do Espectro Autista (TEA). A gerente de Qualidade de Vida, Dala Nogueira, ressaltou que a democratização dos conhecimentos sobre o autismo serve para compreender as particularidades do nosso quadro funcional, promover a saúde mental e boa convivência, bem como acolher bem os jurisdicionados.

Na abertura, o diretor da Escola do Poder Judiciário e também coordenador do Comitê da Saúde do TJAC, desembargador Luís Camolez compartilhou sua experiência profissional ao fazer referência aos Mandados de Segurança que chegam às Câmaras Cíveis, onde há grande índice de processos de crianças que precisam da garantia dos seus direitos. Devido à recorrência da demanda e atualizações constantes, trata-se de um assunto relevante em que o Poder Judiciário está atento.

Em seu pronunciamento, o presidente do TJAC, desembargador Laudivon Nogueira, enfatizou o combate ao preconceito. “A diversidade humana deve ser acolhida com respeito e não estranhamento. A inclusão não é um favor, é um direito! Onde há respeito ao direito, há justiça”, declarou.

A psicopedagoga Ademílcia Grana, especialista em neurodiversidade e acessibilidade, palestrou sobre as características do autismo e o significado do transtorno do neurodesenvolvimento, o qual inicia na vida intrauterina e segue por toda a existência do indivíduo. Ela seguiu com explicações acerca dos prejuízos na comunicação, interação social, comportamentos repetitivos, interesses restritivos e alterações sensoriais.

A palestrante deu relevo a variedade de manifestações, o que em sua opinião tem gerado uma série de estereótipos. Essa variedade justifica o nome “espectro”. “A orientação é a denominação do autismo em seus níveis, ou seja, nível 1, 2 ou 3, conforme a necessidade de suporte. Falar que é um ‘autismo leve’ ou ‘autismo severo’ são nomenclaturas do senso comum, avaliando a partir de um contato superficial. É leve para quem? Não existe autismo leve! Você está invalidando as dificuldades de quem vive”.

Mais duas participações enriqueceram a programação do dia. O estagiário da Gerência de Comunicação declamou o poema “Conexões do Tempo”. Ele foi diagnosticado com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) há seis anos, então suas palavras expressaram suas revelações sobre o que estava passando e como foi tocado pelas compreensões adquiridas.

O servidor Alexandre Oliveira é autista e explanou um memorial de suas lembranças. Ao compartilhar sua narrativa foi as lágrimas. Contou sobre episódios de sua infância, casamento e das dificuldades de quando começou a trabalhar no tribunal. “Meu tempo de aprendizado foi mais lento e eu não conseguia me relacionar com facilidade. Tem pessoas que pegam o serviço em uma semana, mas eu levei meses para me adaptar à organização”, disse.

 

Agora todo mundo é autista?!

Em seguida, a roda de conversa teve como tema “Autismo: Quando a Diferença é Bem-Vinda”. O assunto foi apresentado sobre a perspectiva jurídica, onde a juíza Adimaura Cruz discorreu sobre a Lei do Autista (Lei 12.764/2012) e outras garantias. A psicóloga do TJAC Josineia Costa mediou o debate, “nós estamos em um momento de mudança da cultura organizacional e estou muito grata por estarmos cultivando a empatia e tolerância”. Ela também expôs sobre vivências e desafios do autismo na instituição, e,  por sua vez, a palestrante seguiu com suas colaborações no diálogo.

Uma das interações foi da servidora Elise Cristina, que tem um filho autista. “Como mãe, é muito chato ter que explicar a condição do meu filho! Porque tem momentos que ele está mais comunicativo e tem momentos que não. São individualidades. Isso depende da fase e do contexto”, contou. O depoimento foi respondido por Ademílcia, que realçou “não se sinta cobrada”.

O diálogo alcançou questões sobre o diagnóstico tardio, tipos de intervenções, espectro ampliado, laudo permanente, acesso à terapias e dúvidas.  Um dos pontos que provocou muitas manifestações foi sobre a “camuflagem social” (termo que descreve o comportamento de pessoas que adaptam ou escondem aspectos da própria personalidade, identidade ou emoções para encaixar nos ambientes, evitar julgamentos, rejeições e atender a expectativas externas).

O servidor da Corregedoria-Geral da Justiça, Lucas Kevin, falou sobre sentimentos relacionados à inadequação social e inseguranças. “Por muito tempo, a minha arma foi não falar nada. Eu tento não falar. Às vezes o que eu falo, até ninguém achou estranho, mas a minha interpretação é que acharam estranho. Então, uso a camuflagem social para evitar meus medos”, testemunhou.

“Ser diferente não é errado. O problema é a falta de acolhimento da diferença”, pontuou a magistrada. Com humor, o técnico judiciário, Jener Oliveira, também compartilhou um pouco da sua história e disse o quanto foi libertador saber seu diagnóstico. Então, os problemas sobre o preconceitos veio à tona – “você nem parece autista!”, “Agora todo mundo é autista!”, autistas que são gênios ou que não são capazes, até questões de adaptação e normalidade foram elencadas. 

A mensagem que encerrou o evento foi sobre a valorização de potenciais. O conteúdo foi retomado com um quiz sobre o autismo, onde servidoras e servidores foram premiados com brindes pelas participações.

 

Em Cruzeiro do Sul, o público interno da Cidade da Justiça também participou de uma palestra e se mobilizaram na cor azul para mostrar a importância da conscientização sobre o autismo.

Texto: Miriane Teles/ Fotos: Gleilson Miranda | Comunicação TJAC

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