“Acolhendo Marias” inicia atividades com vítimas que viveram ciclo contínuo de violência

Projeto visa prestar maior apoio psicossocial às vítimas.

Entre mais de três mil processos de violência doméstica em Rio Branco, muitos tem como protagonistas agressores reincidentes. Assim, a vítima percorre um caminho que já passou, inclusive sendo acolhida novamente pela equipe da Vara de Proteção à Mulher. Desta forma, a Justiça Acreana compreendeu que era possível dar um passo além dos trâmites processuais e entregar um apoio psicossocial mais próximo e profundo, por isso foi lançado neste Dia da Mulher o Projeto Acolhendo Marias.

O primeiro grupo foi selecionado entre vítimas que vivem um ciclo contínuo ou intenso de violência, ou seja, mulheres que já passaram por outras agressões ou mesmo que tenha sido a primeira denúncia, trata-se de um caso diagnosticado com alta complexidade.

Foram selecionadas 12 mulheres para receberem o suporte proposto pelo programa, na qual estão previstas ações como visita ao domicílio, acompanhamento psicológico individual e encaminhamentos necessários à Rede de Proteção à Mulher, composta por órgãos públicos e entidades que colaboram com o enfrentamento desse tipo de violência.

Durante a reunião, uma participante reconheceu que seu filho também precisa de atendimento psicológico, o que gerou empatia em as outras mulheres do grupo, que vivem situações semelhantes, mas que neste momento também acreditam que o amparo técnico pode possibilitar uma nova fase de bem-estar.

Uma das vítimas compartilhou que tinha feito um acordo com o companheiro, que registraria a renúncia à representação perante a juíza se esse a deixasse em paz. Mas o combinado não foi cumprido. Por ser o proprietário da casa em que a família mora, não saiu de casa e as relações também não foram ajustadas.

“Da última vez ele me deu um murro e disse: vai lá fazer a queixa”, contou. Aos 34 anos de idade e com quatro filhos, confessou que em 12 anos de agressão considerou o suicídio como opção mais de uma vez, “mas graças a Deus eu fui covarde, porque não posso desistir pelos meus filhos”.

Outra identificou que o seu agressor também tem um discurso similar. Ele me dizia: “Se eu der um murro eu vou ser preso, então vou logo matar”. Apesar de materializada a violência psicológica e física, a vítima não ficou inerte. “Ele achou que eu estava brincando quando liguei para a polícia. Mas quando os agentes chegaram à rua ele chorava de joelhos para eu não deixar eles o levarem. A gente sempre acredita. Eu achei que ele ia mudar”, concluiu.

O primeiro encontro conversou sobre aspectos identificados em relacionamentos abusivos, como insegurança, dependência emocional, limites e sofrimento.

Segundo a psicológa Kelly Feitosa, o trabalho será desenvolvido durante todo o ano e os resultados devem ser apresentados durante os 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra a Mulher, que ocorre em novembro.

Assessoria | Comunicação TJAC

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